quinta-feira, 14 de abril de 2022

plath e eu

 ok, eu digo isso há pelo menos uns 4 anos, mas eu preciso me esforçar  voltar a escrever aqui. e não porque isso faça alguma diferença em mim ou no mundo, não é como se fossem profundas escritas jurídicas ou feministas ou algo assim, são só uns pensamentos aleatórios que as vezes penso que se não colocar em algum lugar vou acabar perdendo o insight da coisa.


minha psicóloga sempre começa nossas sessões perguntando "então, querida, como você está?" e é incrível como a pergunta mais banal, nesse pequeno momento da semana, perde completamente o sentido para mim. como eu estou? "eu não faço a mínima ideia", é geralmente como eu respondo. naquele momento específico é como se todos os conceitos e padrões sociais do "tudo bem?" fossem esquecidos, como se essa simples pergunta fossem uma frase mágica que abrisse meus sentidos e descascasse minha capa auto protetora - nesse momento, eu estou exposta, vulnerável, frágil. e ai que eu simplesmente, realmente, não sei dizer como eu estou.


retroagindo a minha vida eu me vejo como uma desorganização de sentimentos no qual é impossível saber exatamente o que eu estou sentido. hoje, tentanto me esforçar para entender, diria que estou triste - mas a tristeza, comigo, é sempre diferente. eu não fico triste, eu sou sugada por um buraco negro que parece viver no meu estômago e que me leva, em segundos, para um local de ausência completa. é como se a epitome de qualquer tristeza me levasse automaticamente para o polo oposto das sensações, sendo teletransportada para um não-existir, não-sentir, não-viver, onde tudo é cinza, frio, e minha vivência calculista, observadora, analítica.


nesses momentos, que pareço desentir tudo exatamente para não morrer por sentir demais, viro um observador da vida humana, um alien estudante do comportamento alheio, que já não vê sentido nas coisas mas estuda os  mínimos movimentos da vida para, na hora do show, conseguir performar a normalidade que tanto esperam. no fim, nesses momentos em que o não-sentir é soberano, lembro da sylvia plath e porque me senti tão ligada a história dela. é porque, pra mim, a sylvia passou 33 anos não-vivendo, observando, performando humanidade, enquanto por dentro ela era tão alien quanto eu. existem mais de nós? que olhamos para fora sem entender, sem existir? 

terça-feira, 10 de agosto de 2021

só Deus sabe

pela primeira vez em 10 anos, estou indo à igreja voluntariamente. tenho tido esse desejo há meses. nem sei se a igreja estará aberta, se terá missa. mas irei. tentarei, ao menos. eu preciso disso.


já tem alguns meses que eu me sinto atraída para a igreja católica, como nunca me senti. cabe lembrar aqui, que não possui a memória do meu corpo físico, que eu frequentei a igreja católica por toda minha infância, até o início da minha adolescência. parei de frequentar pela rebeldia própria da idade - passei a achar as ideias arcaicas, as pessoas hipócritas e o ambiente e valores propagados muito diferentes do que Deus, em tese, deveria pregar - amor com restrição; bondade limitada; por quê?


eu sabia que esse ano minha vida ia ser complicada. na minha cabeça, o óbvio: oab, monografia, faculdade, efetivação. não imaginei que mudaria de apartamento, moraria sozinha, me decepcionaria com o meu trabalho que, até então, era a  melhor parte da  minha vida, cortaria relações com amigos próximos e estaria, apenas em agosto, na segunda internação do meu pai.


e então, fui à igreja. chorei muito pensando no meu pai e  nas coisas que não quero que ele sinta, mas não me senti acuada como me senti na missa de sétimo dia da minha avó. só de  lembrar como me senti naquele dia já fico mexida - igreja católica e religião, de  forma geral, sempre representaram pra  mim o que senti intensamente na missa da minha avó: hipocrisia, superficialidade e mentira. pessoas que não deram valor  a  minha avó em vida, chorando sua morte. pessoas que não foram presentes, não deram amor, uma  palavra amiga, se fazendo das grandes vítimas da morte da minha avó. do que adianta chorar quando é tarde demais para mudar?


por consequência, sempre achei que se fosse novamente à igreja, esse seria o mesmo sentimento. não foi. eu me senti aliviada e diria, talvez, que acolhida. não de uma forma cinematográfica em que a mocinha, ao encontrar novamente sua espiritualidade, chora copiosamente pelo alívio de pertencer. mas de não sentir que o ambiente externava o pior das pessoas e que ali eu poderia encontrar refúgio para as minhas aflições.


não sei se e quando volto, ainda nem processei toda a experiência. tentei conversar com Deus - lá, aqui, mas não sai nada muito católico. perdi o hábito. não espero que alguém ouça minhas súplicas com o intuito de diminuí-las há muitos anos. falo com o externo como se fosse um amigo imaginário muito do sarcástico que ama ouvir minhas piadas sobre a  minha vida.


mas agradeço por ter ido. só espero que, dessa vez, ao menos, seja ouvida. de tudo que poderia pedir e que também são desejos justos, só peço, aqui como pedi lá, que meu pai não sofra. acima de tudo. e que se eu puder ser egoísta, que ele fique, ainda por muito tempo. pois ele é o amor da minha vida e eu não quero respirar sem ele.

domingo, 27 de setembro de 2020

 parece uma outra vida desde que consumava escrever nesse blog.


já me debrucei nas palavras dos  últimos posts explicando o propósito desse espaço. não tem muito, pra ser honesta. eu gosto de escrever porque dá ordem à confusão que minha cabeça é.


mudei de psicóloga nesse último mês e ainda não decidi se gosto dela. mas, acima disso, não consigo lembrar quais são minhas reclamações: então vim aqui pra isso.


  • meu estado de humor muda muito. já fui diagnosticada com transtorno de bipolaridade, porque em um instante eu estou extremamente irritadiça e no outro quero abraçar o mundo.
  • acima disso, eu sempre achei que um diagnóstico e um medicamente ajudariam a resolver a eterna falta de ânimo que eu tenho. é como se eu só conseguisse fazer as coisas quando há enorme motivação para aquilo e eu nunca nunca nunca tivesse tido dsciplina. sou preguiçosa, indisciplinada? 
    • minha psiquiatra me receitou ritalina na última vez que fui no psiquiatra. ajudou, confesso, mas ajudou a prática dos atos, não meu estado de ânimo - que continua o mesmo.
    • deveria estar tomando medicamento? será que meu problema não é falta de autoestima bizarra que eu tenho que de alguma forma gerou tudo isso? será que eu não tenho diagnóstico nenhum, doença nenhuma?
  • estou pensando em não voltar na psiquiatra enquanto não resolver isso na terapia. ou o contrário, ir na psiquiatra primeiro para depois entender como levar a terapia. minha psicóloga me irrita um pouco.

eu estou cansada, chorona e perdida. e o pior, minha vida não está ruim, mesmo! lembra quando disse que queria um estágio e responsabilidades maiores? pois ganhei, do nada. maior escritório de advocacia do brasil. minha faculdade voltou. pressão para ser melhor, boa, efetivada.

eu só queria não ser essa pilha mental que pensa em tudo e em todas as possibilidades e fica paralisada e não faz nada e não se  move e fica aqui, deitada, sem banho, por dias seguidos.

o que é que eu faço agora? 

quarta-feira, 25 de março de 2020

pandemia

em tempos de coronavirus (e eu vou querer escrever isso agora pelo momento histórico que estou inserida), é muit dificil controlar a saúde mental. agora são 4h da manhã, acordei há 1h, e já mandei uma mensagem muito imortante pra veronica, com quem não tenho conversado há séculos. hoje, na sessão com a minha psicologa, ela disse que ignorar o que a gente quer por achar que a outra pessoa não merece não é gesto de amor próprio - isso porque eu comentei que queria perguntar ao meu ex se está tudo bem com ele, o que não vou fazer, obviamente.
amo a marcella, mas nem tudo eu estou pronta pra por em prática. a rejeição, a decepção, a angústia.
e o mais engraçado é que parece que - eu não sei o que parece.
eu vivo nessa constante memoria criada de que ele em algum sentido é aquilo que a gente convencionou em chamar de amor da minha vida. e nunca, desde então, consegui me apaixonar por mais ninguém.
eu já não me pego mais repensando cada detalhe nosso tentando entender quais atos dessa peça cômica fizeram ele entender que eu não era pra ele - graças a deus a terapia fez seu serviço. não vale o auto ódio.
mas ainda me perguntou se tem algo que eu possa fazer, agora, pra que dê certo hoje. porque, no final, ele sempre é minha escolha. pensamento que também queria entender.

**

meu horoscopo disse que, nesse ano, eu tenho que confiar mais na minha intuição e me dedicar ao trabalho. minha intuição diz que a gente não acabou. mas eu posso esperar pra sempre alguém que talvez nunca esteja pronto pra mim, como eu mereço?

sábado, 7 de dezembro de 2019

tchau, 2019

em 2019 eu fiz 7 anos desse blog.

eu lembro quando o criei, em 2013, meu último ano do ensino médio - imaginava o quão legal seria poder dizer que tinha o blog há um, dois anos - hoje, eu o tenho há sete.

ele me acompanhou por muitas fases da minha vida:

  • 2013 - terceiro ano do ensino médio, tentando ser anoréxica?, querendo passar para direito na UERJ (um sonho que parecia impossível), flertando com um professor de biologia e sofrendo um bullying (até que tranquilo, mas, enfim) por ter sido trocada pelo menino que gostava no pré vestibular;
  • 2014 - depois de ter decidido fazer o vestibular apenas como teste no terceiro ano, comecei um pré vestibular em outro bairro, gostei (e sofri) muito por um garoto que mal conhecia - ai, mateus. Perdi minha avó;
  • 2015 - comecei a estudar Ciência Política na UNIRIO. Aos 19 anos recém completados, perdi minha virgindade com um menino que conheci no tinder (pois é). Ainda sofri pelo menino com cara de criança que fazia com que eu achasse que finalmente iria namorar;
  • 2016 - passei no vestibular, finalmente!, e deveria ter começado a estudar direito na UERJ - a greve, entretanto, bifurcou esse caminho. Comecei a trabalhar como jovem aprendiz no jornal globo (eu a glamourização do emprego), conheci Raphael, o menino legal da veterinária; conheci Gabriel, o menino cool da minha cidade. Me machuquei muito esperando amor de fontes desconhecidas, abri feridas que ainda não cicatrizaram - homens, sempre;
  • 2017 - decidi que ia ficar sem homens, ia me descobrir, e no meu aniversário de 21 anos (14 dias após a promessa), conheci aquele que seria meu futuro namorado. Comecei a estudar, de fato, na UERJ. Tive meu primeiro estágio em Direito. Foi o ano mais ambíguo da minha vida - tive do melhor e do pior. O melhor amor, namorado, amigo; o pior término, tratamento, decepção. Foi, definitivamente, o ano em que as portas da vida adulta se abriram para mim. Sai da minha cidade e fui morar no Rio de Janeiro com 4 meninas desconhecidas. Iniciei uma jornada que, não parece, mas está só no começo;
  • 2018 - o pior ano da minha vida. Foi o ano, também, mais importante dela. O ano em que tive que trabalhar parar lidar com as feridas que o ano anterior tinha me deixado. Comecei a terapia (Marcella, meu amor é todo teu), perdi e tive que lutar para reencontrar amigos, fui nos únicos jogos jurídicos da minha vida (até então, pelo menos). Revi meu ex, feliz. Chorei. Chorei muito. Entendi menos ainda como podemos nos fixar tanto em alguém, numa ideia, e perder uma felicidade possível pelo apego às memórias;
  • 2019 - ano em tons de cinza. Cresci muito. Acho que depois de 8 meses na terapia, finalmente comecei a praticar seus ensinamentos. Revi meu ex - nos envolvemos novamente, como era esperado, mas dessa vez não chorei. Minhas lágrimas tinham secado um ano antes. E lembrando do porquê minhas lágrimas não mais estavam presentes que percebi que, por mais que parecesse o contrário, aquele homem não pertencia na minha vida - não aquela versão, pelo menos. Foi doloroso (sim) perceber que eu merecia mais. Que eu merecia melhor. E que o melhor não era ele. Entrei no estágio dos meus sonhos e tenho sido muito feliz por lá. A faculdade, bem, não tem sido a das melhores, mas é a linha reta dos acontecimentos que conta.

E para 2020, o que eu quero? Não sei muito. Um estágio maior, um dedicação maior, mais responsabilidade financeira e respeito ao meu corpo. É isso.

Aos 24 anos, acho que tudo que quero é paz. E vida, pra viver, com calma, tudo que aprendi nesses últimos 7 anos.

sábado, 27 de julho de 2019

não sei muito bem como me sentir em shows - sempre deslocada, mas sempre por vontade própria (se não, como eu faria o que eu quero se ninguém mais quer o mesmo?).
mas hoje, especialmente, parece que eu espero sinais de você pelos lugares que normalmente me seriam sinais. na música de amor,  nos casais se beijando, nas conversas ao pé do ouvido.
no lugar, vazio.
por que?

segunda-feira, 27 de maio de 2019

Carta a G.

demorei para sentar e escrever qualquer coisa aqui que fosse destinada a você - parte porque ainda não acredito que você voltou pra minha vida, parte porque sei que essa volta pode não ser definitiva.
não acho que agora seja trabalho de explicar como tudo recomeçou. mas eu quero sintetizar o que você tem me feito sentir e o que, afinal, eu vou fazer com tudo isso.

Greg,
Quando você terminou comigo (de forma desleal, injusta e cruel, eu diria), eu fiquei num limbo existencial. Eu já vinha de uma crise de depressão que aparentemente ninguém viu - pra todo mundo, aquela instabilidade emocional, o meu afastamento crescente das pessoas, minha raiva constante, eram características normais da minhas personalidade. Não são. Mas essa crise, que não vimos começar, nem percebemos se manifestar, me deixou uma criaturazinha muito vulnerável a você. Porque na leva da crise, eu te tornei minha segurança, meu suporte de ferro. Eu tinha uma certeza bruta que você era inabalavelmente quem me sustentaria nos dias difíceis.
Até que meus dias ficaram difíceis demais pra você. E não falo isso com peso no peito, me atribuindo culpa pelo fim desse namoro quase patético. Não, eu não fui a culpada. Nem você foi. Mas isso me lembra uma característica sua que me fez começar a escrever isso aqui: como você mesmo disse, você só dá valor pra aquilo que perde. Você não sabe manter o interesse quando as coisas ficam difíceis. Enquanto tudo é divertido, feliz, excitante, ótimo!, você está ali, presente, vivo. Mas eu não sou constantemente divertida, feliz, excitante - ninguém é.
Como parte de mim sempre vai ter um lado que só quer não acordar de manhã e emendar um dia no outro, dormindo, numa anulação da própria existência. Como isso poderia dar certo? Ou você muda uma característica quase fundadora do que você é, ou eu continuo anulado parte do que eu sou pra manter um relacionamento que, francamente, se nã consegue se manter sozinho, não deveria existir.
Antes, do seu lado, era quando eu me sentia mais confortável na minha própria pele. Fisicamente, psicologicamente. Mas eu não te conhecia, não sabia do que você suportaria ou não. Hoje, do seu lado, eu não sei ser eu mesma, tanto porque fico insegura quanto a minha posição na sua vida, quanto porque eu sei, agora, o que você suporta e isso não sou eu, não inteiramente.
Numa das poucas conversas que a gente teve desde que nos vimos de novo (porque a gente nem consegue conversar mais como antes!), você me falou as três coisas que mais gosta em mim. Coisas físicas. De acordo com você, meu nariz ganhava. Depois minha boca e meu peito. E você me perguntou as três coisas que eu mais gostava em você e que não poderia conter o óbvio, seus olhos azuis.
Eu gosto, Gregory, dos seus olhos azuis. Não porque eles são azuis, eu não poderia me importar menos com a cor dos olhos de alguém. Eu amo seus olhos porque toda vez que eles me encaram parece que você está me vendo pela primeira vez. Eu lembro, sempre, da mesma sensação de quando verdadeiramente te vi pela primeira vez  (porque lapa não conta): é uma palpitação fraquinha do lado esquerdo do peito que deixa minha cabeça meio bamba e minha vista meio turva, como se tivesse bebido uns dedos de álcool. Tudo junto e de forma quase imperceptível, mas tá lá. Ser vista por você me deixa exposta, parece que você consegue ler o que eu penso e ver mais claramente meus defeitos. Então toda vez que estamos juntos eu espero que seja a ultima vez, porque você já me provou, antes, que eu não sou boa o suficiente pra você. Então, se eu sou essa coisa pequena que você consegue descartar tão fácil, o que estamos fazendo aqui ainda?
Pra resposta, eu diria também que gosto das suas mãos, não por alguma característica específica ou habilidade surpreendente. Eu gosto das suas mãos porque elas são a manifestação do seu carinho. Seja pelo toque ou pelo não toque, é através delas que sei o que você está pensando. E que gosto do seu peito, igualmente. Porque ele sempre me pareceu uma casa muito aconchegante.
Mas entende como o seu físico me atrai para além dele mesmo? Esse é o nosso problema. Eu não consigo te ver como um cara que eu conheci dois meses atrás numa festa da faculdade. Pra mim você sempre vai ser o Greg, meu ex, o cara que eu fui idiotamente apaixonada e que eu não consigo sentir menos. E isso, de ser a garota que casualmente você vê, não me faz bem porque eu não consigo aceitar ser diminuída a só isso depois de tudo que você me fez passar.
Não que tenha sido culpa sua minha depressão ou o quão despedaçada eu fiquei depois que você foi embora. Porque você não sabe, mas eu praticamente não existia. Eu vivia cada dia pensando terrivelmente de mim mesma pelo que pude ter feito pra te afastar tão bruscamente de mim. Minhas lágrimas demoraram para secar - o que aconteceu, eventualmente. Eu lembro especificamente do meu aniversário ano passado, quando eu tive uma crise choro que assustou todo mundo do meu estágio. Parecia que alguém tinha morrido. Mas pra mim era, pela primeira vez, a compreensão mais realista que a gente não estava mais junto, porque aquela data foi a que eu mais esperei em um ano para passar contigo. Depois eu descobri que você já estava com outra pessoa.
Então, novamente, Greg, eu te pergunto, o que estamos fazendo aqui agora? Porque você me destruiu muito pra eu aceitar qualquer coisa de você.